sábado, 18 de abril de 2020

SÁ E GUARABYRA: QUASE MEIO SÉCULO DE PARCERIA


                                    
No início, era cada um por si. Em 1967, aos 20 anos, Guttemberg Nery Guarabyra Filho, com o Grupo Manifesto, conquistou o 1º lugar no Festival Internacional da Canção com a música "Margarida". Um ano antes, Luiz Carlos Pereira de Sá, de 21 anos, ganhava destaque com a canção “Giramundo”, gravada por Pery Ribeiro & Milton Banana Trio.  Em 1971, Sá e Guarabyra se uniram ao músico José Rodrigues Trindade, o Zé Rodrix, que, aos 24 anos, era ex-integrante do grupo Som Imaginário e que naquele ano venceu o Festival da Canção de Juiz de Fora com a canção "Casa no Campo”, em parceria com Tavito, acompanhado no palco por Sá e Guarabyra.
  A união de Sá, Rodrix e Guarabyra resultou na criação do “Rock Rural” e no lançamento dos álbuns “Passado, Presente & Futuro” (1972) e “Terra” (1973). Em 1973, Zé Rodrix segui carreira solo e, a partir dos anos 80, dedicou-se mais às atividades como publicitário, apesar de, em 1983, integrar o grupo Joelho de Porco, com o qual gravou LP e participou do Festival dos Festivais, em 1985, ganhando o prêmio de melhor letra pela música "A Última Voz do Brasil".
  Sá e Guarabyra permaneceram unidos, compondo e gravando canções de sucesso nacional e internacional, como “Caçador de Mim”, “Dona”, “Espanhola”, “Verdades e Mentiras”, “Sobradinho”, “Sete Marias”, “Roque Santeiro”, dentre outras. Ao todo, a dupla lançou 12 álbuns: “Nunca” (1974); “Cadernos de Viagem” (1975); “Pirão de Peixe com Pimenta” (1977); “Quatro” (1979); “Dez anos juntos” (1982); “Paraíso Agora” (1984); “Harmonia” (1986); “Cartas, Canções e Palavras” (1988); “Vamos Por Aí” (1990); “Sá & Guarabyra” (1994); Rio-Bahia (1997) e “Orquestra Sinfônica de Americana ao Vivo” (1999).
  Em 2001, Sá, Rodrix e Guarabyra se reuniram para gravar o DVD "Outra Vez na Estrada" e lançar o CD “Outra Vez na Estrada - Ao Vivo”. Em 2009, gravaram o álbum "Amanhã". Naquele mesmo ano, no dia 22 de maio, aos 61 anos, Zé Rodrix morreu.
  Em 2015, Sá e Guarabyra lançaram "Songbook", em formato livro, reunindo 35 canções e em "CD", com 14 canções. E seguem na estrada, com shows por todo o país.
  Por Marco Damy -  jornalista e músico...

Rock Rural
  Rock Rural é um estilo musical criado por Sá, Rodrix e Guarabyra, João Carlos de Lima e J.C. Grein Xavier, na década de 70 do século XX, no Brasil, o rock rural incorporou influências do folk e country anglo-saxônicos ao estilo da toada lusitana, com uma linguagem poética que se refere aos temas do campo, resultando numa musicalidade com ritmo de balada pop.
  Num nível mais específico, encontrar-se-á uma variedade de denominações no que se refere às versões urbanas do universo rural no formato de música popular. O rock rural contribuiu para um processo de reavalição da cultura popular, que culminaria mais tarde com o estabelecimento dos valores do mundo rural como algo 'cool', aceito pela população urbana.
  Nesse contexto, o rock rural foi um movimento pioneiro. Sem intenção declarada por seus criadores, utilizou a técnica da antropofagia criada por Oswald de Andrade em Manisfesto Antropofágico, parte do Movimento Modernista de 1922, que introduziu o Brasil nos conceitos de vanguarda da produção cultural do Ocidente no início do século XX.
  Há 20 anos atrás seria impensável telenovelas de abrangência nacional tratando de temas do mundo rural. A aceitação do universo caipira como uma produção cultural de valor semelhante aos demais estilos estabelecidos e aceitos como identidade nacional é um fenômeno recente e resultado de inúmeras iniciativas. Dentre elas, o trabalho de pesquisa e registro da música caipira (ou sertaneja) levado a cabo por Marcus Pereira tem um valor histórico monumental, semelhante à iniciativa pioneira de Cornélio Pires na década de 20. Porém, essa cultura rural, tendo como vanguarda a música, caipira, de início, sertaneja posteriormente, mesmo tendo um público considerável, permanecia sob o rótulo de 'cultura de segunda categoria'. O falar errado do peão, a gramática por vezes imperfeita em clássicos como Tonico & Tinoco. O próprio sotaque do 'erre' aberto era evitado, trocado pelo 'erre' de garganta ? a porta pronunciada 'porrta', numa clara discriminação do universo caipira ? o falar do Jeca. A não ser que fosse com caráter cômico, como nas obras de Mazzaropi, o universo caipira era uma cultura de segunda classe.
  Retornando ao rock rural, outros artistas desenvolveram a tendência incluindo outras sonoridades, como o veterano da Jovem Guarda, Eduardo Araújo. Sua versão do clássico "Barracão de Zinco" mostrava a influência de Joe Cocker no estilo vocal e guitarras que aprenderam a técnica de Jimi Hendrix, ambos imortalizados em Woodstock.
  Depois vieram Renato Teixeira, Zé Geraldo, Almir Sater. A mudança de Sérgio Reis, da Jovem Guarda, "Coração de Papel", para o campo sertanejo com "Menino da Porteira", foi um fator relevante nesse processo antropofágico que finalmente estabeleceu o universo rural como algo a ser respeitado pela 'inteligentsia' nacional como um componente indispensável no caldeirão cultural brasileiro, entre outras razões, por sua beleza peculiar.
  A presença das guitarras, a explosão sertaneja, a ocidentalização do universo caipira. Esse fenômeno que está em pleno desenvolvimento deveu-se a vários fatores e recebeu a contribuição de uma gama considerável de agentes culturais. Dentre eles, o rock rural, anunciando alto e claro que ser caipira e sertanejo não é pra qualquer peão, tem que ter poeira vermelha no coração, foi e continua sendo ? novos agentes culturais continuam desenvolvendo a tendência ? um marco histórico a ser registrado. (Texto: Letras.com)

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