
Cat Stevens - Mona Bone Jakon - 1970 - Eis que você é um garoto de 19 anos que consegue conquistar a Europa logo no seu primeiro álbum de estreia. Com a pressão pelo sucesso, acaba sucumbindo a uma grave doença, e fica acamado por quase um ano. Nesse período, cria um dos melhores de sua carreira, e por que não, da música mundial. Estou falando do britânico Cat Stevens, hoje também conhecido como Yusuf Islam.Antes de converter-se ao mundo do islamismo, Stevens teve uma carreira de grande sucesso no mundo inteiro. Para quem não sabe, ele é o autor da linda "Wild World", que depois ficou conhecida aqui no Brasil através das vozes de Pepê & Neném, com o atentado "Nada Me Faz Esquecer", além de ter recebido versões desde Jimmy Cliff e UB-40 até Mr. Big. Essa canção é do quarto álbum de Stevens, Tea for Tillerman (1970), lançado no mesmo ano daquela que julgo ser sua obra-prima, Mona Bone Jakon.
Esse, portanto, é o terceiro álbum de Stevens. Chegou às lojas em abril de 1970, e foi o divisor de águas na carreira do artista, conquistando ouro nos Estados Unidos. Stevens teve um um início de carreira estardalhante, com os sucessos "I Love My Dog", "Matthew and Son" e "I'm Gonna Get Me a Gun", do aclamado disco de estreia de Stevens, Matthew and Son (1967).
A faixa-título conquistou segunda posição no Reino Unido, com o álbum chegando na sétima posição, um fato raro no mundo da música para alguém tão jovem. A pressão pela repetição do sucesso era enorme, e o inglês não conseguiu repetir a façanha em seu segundo disco, New Masters, de 1967.
O fracasso de New Masters deixou Stevens muito doente, diagnosticado com tuberculose e infarte do pulmão. Com isso, acabou ficando um ano em repouso forçado, boa parte no hospital King Edward VII Hospital em Midhurst, West Sussex. Lá, começou a compor as canções de seu próximo disco, inspirado por uma vida espiritual e praticando Yoga, meditação e estudos de metafísica, além de tornar-se vegetariano.
Assim, após se reabilitar, entra em estúdio acompanhado de Alun Davies (violão), John Ryan (baixo) e Harvey Burns (bateria), além dos arranjos de Del Newman e da produção do ex-baixista dos Yardbirds, Paul Samwell-Smith, Smith foi o responsável por "limpar" o som de Stevens, com uma alta qualidade sonora que beneficiou a performance folk rock de Stevens.
"Lady D'arbanville", homenagem de Stevens a sua namorada americana, Patti D'arbanville é a responsável por abrir os trabalhos, com o dedilhado do violão e o vocal sofrido de Stevens, em uma música que você se apaixona de cara. Basta ouvir essa canção para saber que o que virá pela frente é um álbum espetacular. A percussão e o baixo pulsante são temperos a mais adicionados na canção, a qual considero uma das melhores da carreira de Stevens. "Maybe You're Right" é uma balada pop ao piano, na qual Stevens coloca para fora seus sentimentos, e com um delicado acompanhamento de violão, baixo e arranjos orquestrais.
"Pop Star" é um grande clássico da carreira de Stevens, na qual ele grita para sua mãe "Yes, I'm Gonna Be a Pop Star" sob a levada de baixo e violão, no melhor estilo folk flower power, em uma faixa ótima para agitar luais mundo a fora. O piano sessentista de "I Think I See the Light" nos remete fácil para o primeiro álbum do Genesis, From Genesis to Revelation, e depois que a banda surge acompanhando os vocais de Stevens, é fácil mesmo confundir a canção com algum material perdido do início do famoso grupo de Peter Gabriel. Aliás, Stevens por vezes até emula Gabriel nas vocalizações, principalmente nos trêmolos vocais que o vocalista e flautista fez destaque em sua carreira.
O lado A encerra com outra linda balada ao violão, a tocante "Trouble". A dolorida interpretação de Stevens é de arrancar lágrimas, e o andamento suave de baixo, bateria e piano vão causando uma sensação tão marcante que é impossível descrever com palavras. Certamente, cantar essa canção em um dia de auto-estima lá embaixo fará um bem danado para o corpo e a mente.
A faixa-título surge com violões, maracas e o vocal de Stevens carregado de efeitos, em uma faixa curta e bem experimental, chegando a mais um clássico, "I Wish I Wish", faixa suave, embalada pelo violão e piano, que lembra bastante "Wide World", o clássico citado acima. Destaque para o breve solo de violão por Davies. E eis que surge Gabriel, fazendo breves passagens de flauta na ótima "Katmandu", faixa com apenas o dedilhado do violão de Stevens e seu vocal, e que irá agradar aqueles que gostam de algo na linha de Nick Drake.
O vozeirão de Stevens toma conta da curtinha "Time", com uma levada pesada do violão e uma das melhores letras do álbum, levando a "Fill My Eyes", outra ótima faixa de se cantar em um luau e alegrar a gurizada. Fechando o disco, "Lilywhite" é uma brilhante mensagem de Stevens ao mundo, com o violão e as orquestrações fazendo a cama para o britânico soltar sua voz cheia de paz.
O nome Mona Bone Jakon é um apelido dado por Stevens para seu pênis. "Trouble", "I Wish, I Wish" e "I Think I See the Light" fizeram parte da trilha sonora do seriado Harold and Maude, de Colin Higgins, em 1971 (o filme aqui no Brasil é conhecido como Ensina-me A Viver). A trilha oficial é toda de Stevens, e só foi lançada em 2007. A produção, a cargo de Paul Samwell-Smith, mostra que além das músicas dos Yardbirds, os caras tinham talento também para comandar grandes discos. Foi o álbum que marcou o lançamento da carreira de Stevens nos Estados Unidos.
Por lá, vendeu quase 1 milhão de cópias em pouco mais de cinco anos, e continua a vender bem, apesar de Stevens ter sido proibido de entrar no país por conta de sua conversão ao islamismo, o que gerou muita polêmica desnecessária, e portanto, não irei tratar aqui. Por fim, é um daqueles álbuns para ser ouvido a vida inteira, em qualquer momento. Do Baú do Mairon........
Nenhum comentário:
Postar um comentário