quinta-feira, 5 de julho de 2018
PAULO LEMINSKI: UM POETA QUE FOI ALÉM DA POESIA...
Concisão, irreverência, coloquialidade e o rigor da construção formal. A combinação desses elementos foi possível na obra de Paulo Leminski, um dos poetas mais importantes da história recente da literatura brasileira. Um dos principais nomes da Poesia Marginal, também conhecida como Geração Mimeógrafo, Leminski apropriou-se dos recursos visuais da publicidade, dos provérbios e trocadilhos da cultura popular e da forma, elementos herdados da poesia concretista que surgiu no Brasil, na década de 1950.
Poeta, romancista e tradutor, Paulo Leminski nasceu no dia 24 de agosto de 1944, na cidade de Curitiba, Paraná. Mestiço de pai polonês com mãe negra, Leminski teve contato com o latim, teologia, filosofia e literatura clássica aos 12 anos, quando ingressou no Mosteiro de São Bento, em São Paulo. Em 1963, abandonou a vocação religiosa e, em 1964, publicou cinco poemas na revista Invenção, dirigida por Décio Pignatari, porta-voz da poesia concretista paulista. Tornou-se professor de História e Redação em cursos pré-vestibulares e, posteriormente, atuou como diretor de criação e redator em agências de publicidade, o que influenciou bastante sua produção poética, sobretudo no aspecto da comunicação visual. Em 1975, publicou seu primeiro romance, Catatau, livro que denominou “prosa experimental”.
Leminski era um apaixonado pela cultura japonesa. Foi tradutor e seguidor de Matsuo Bashô, um dos poetas mais famosos do período Edo no Japão e reconhecido como um mestre do haikai(poema curto formado por três versos, em que o primeiro e o terceiro versos são pentassílabos, ou seja, formados por cinco sílabas poéticas, e o segundo verso é heptassílabo, formado por sete sílabas). O fascínio pela métrica oriental fez com que Leminski, ao lado do poeta Guilherme de Almeida, fosse reconhecido como grande divulgador da poesia haicaísta no Brasil, cuja principal característica era a concisão e a preocupação com a linguagem, uma vez que o grande desafio era encaixar as palavras na rigorosa métrica do poema.
Além de ter dedicado grande parte de sua obra aos haikais, Paulo Leminski também deixou uma grande contribuição para a Música Popular Brasileira. Fez parcerias com os músicos Caetano Veloso, Moraes Moreira, Arnaldo Antunes e Itamar Assumpção e também com a banda A Cor do Som. É significativa também sua contribuição como crítico literário e tradutor: entre os principais autores que traduziu, estão James Joyce, Samuel Beckett, Yukio Mishima, Alfred Jarry, entre outros.
Viveu durante 20 anos com a também poeta Alice Ruiz, com quem teve três filhos. O poeta, que há anos lutava contra uma cirrose hepática, faleceu no dia 07 de junho de 1989, aos quarenta e quatro anos. Sua morte prematura, contudo, não impediu que sua obra fosse difundida e considerada atemporal. Quase trinta anos após seu falecimento, Leminski ocupa lugar de destaque na literatura brasileira, e sua obra continua sendo objeto de interesse por parte da crítica e do público. Em 2014, foi publicado o livro de poemas Toda poesia, volume que percorre a trajetória completa do autor curitibano. A publicação alcançou a invejável marca de livro mais vendido do ano, desbancando diversos best-sellers, o que comprova o interesse crescente dos leitores pela obra desse que é um dos poetas mais criativos e irreverentes na nossa literatura.
"Dor elegante"
Um homem com uma dor
É muito mais elegante
Caminha assim de lado
Com se chegando atrasado
Chegasse mais adiante
Carrega o peso da dor
Como se portasse medalhas
Uma coroa, um milhão de dólares
Ou coisa que os valha
Ópios, édens, analgésicos
Não me toquem nesse dor
Ela é tudo o que me sobra
Sofrer vai ser a minha última obra.
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