sexta-feira, 5 de novembro de 2021

UMA PROPOSTA INOVADORA, UM DISCO QUE DEIXOU SAUDADES......

                                     

ANTONIO ADOLFO - Feito em casa - 1977 - Eu tenho o maior carinho por este disco, afinal ele faz parte da minha vida desde o final dos anos 70, além de ser bom demais. Para quem desconhece, Antonio Adolfo é um notável pianista, arranjador musical e um compositor de mão cheia.

Na década de 60, ele tocou piano em gravações de diversos artistas e participou da cena musical do "Beco das Garrafas" famoso reduto da Bossa Nova, MPB e Jazz. No final dos anos 60 conquistou o sucesso popular com seu conjunto vocal-instrumental A Brazuca. Antonio Adolfo é autor de sucessos eternos da MPB, tais como "BR-3", parceria com Tibério Gaspar defendida por Tony Tornado & Trio Ternura no Festival Universitário da Canção de 1968; "Sá Marina", imortalizada na voz de Wilson Simonal e "Teletema", com o Trio Ternura. Trajetória suficiente para creditar Antonio Adolfo entre os principais nomes da produção musical brasileira. Depois que ele viveu alguns anos em Paris, retornou ao Brasil em 1975 e começou a lançar sua própria gravadora, uma das primeiras gravadoras independentes no Brasil. Adolfo estava cansado de trabalhar em conjunto com as grandes gravadoras e procurou as grandes empresas do disco e ofereceu-lhes seu novo projeto. Contudo, sua proposta era vista como pouco comercial pelos produtores, que inclusive chegaram a propor uma volta d'A Brazuca. As tentativas inócuas de negociar o LP com as gravadoras duraram até 1976. As negativas impulsionaram Antonio Adolfo para a produção independente. Para financiar a ousadia, vendeu seu carro e um órgão Hammond e foi para o estúdio com suas canções de arranjos cuidadosos. Ao todo foram gravadas 12 canções das quais 11 entraram no LP, todas inéditas, com exceção de "Dia de paz" (parceria com Jorge Mautner) gravada por Erasmo Carlos no disco "Banda dos Contentes" (Polydor, 1976). Quase todas as canções são instrumentais, exceto "Vê" e "Acalanto", com vocais de Malú e Joyce, respectivamente, e "Aonde você vai" na voz de Antonio Adolfo. Com o álbum todo gravado, Antonio Adolfo criou uma empresa para selar o disco, assim surgiu a Artezanal (sim, com Z mesmo). Como o disco carregava o diferencial de ser totalmente auto financiado, a capa também caracterizava o processo. Para confeccioná-la de maneira econômica e criativa, Antonio Adolfo usou envelopes de cartolina crua e dois tipos de carimbo, um com seu nome e outro com o título do álbum: "Feito em casa".
A partir da experiência do "Feito em casa" criou-se um sistema de produção de discos independentes que abriu caminho para que cada vez mais novos compositores, instrumentistas e intérpretes aderissem à proposta, todos interessados nas vantagens assinaladas por Antonio Adolfo, tais como: liberdade de criação, propriedade da obra, controle de royalties e vendas. "Antonio Adolfo fazia sozinho o que as estruturas montadas nas grandes companhias realizavam com suas equipes. Foi um episódio inédito na história do disco brasileiro que deixou perplexo os mais incrédulos. A proeza de Antonio Adolfo mostrou que o disco independente não era uma quimera"

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