segunda-feira, 26 de julho de 2021

UMA AMIZADE ILUMINADA...

Se tem um artista que deixou saudades e faz uma falta imensa é Ravi Shankar. Ele nasceu em 7 de abril de 1920 e deixou esse mundo em 11 de dezembro de 2012. Ravi Shankar, teve influência direta na música dos Beatles e consequentemente em toda uma geração. Em homenagem ao grande mestre, posto o belíssimo texto, escrito por Valdir Junior (publicado em 26 de fevereiro de 2012, bem antes do falecimento de Ravi Shankar) sobre a amizade de dois homens, mestre e discípulo. Ravi Shankar e George Harrison. Abração em todos. HARE KRISHNA!!!

Foi em 1965, durante as filmagens de Help!, que a música indiana entrou na vida de George Harrison. Ao ver no set um instrumento estranho, que fazia um som totalmente desconhecido, logo despertou imensa curiosidade. Esse instrumento era a sitar (não confundir com cítara, que não possui o popularmente chamado “braço”, como os de guitarra) e não demorou muito para o “beatle quieto” adquirir uma, bem barata, em uma loja de artigos indianos chamada Indiacraft, em Londres. Em pouco tempo já estava arranhando o bicho. Chegou até a incluir aquele ruído diferente à música “Norwegian Wood”, do disco Rubber Soul, à pedido de John Lennon. Apenas meses depois, na turnê pelos Estados Unidos, ouviu pela primeira vez a música do mestre Ravi Shankar durante uma viagem de ácido com os amigos Roger McGuinn e David Crosby, então da banda The Byrds. Foi amor à primeira vista. Mesmo sem nunca ter ouvido nada igual, nem ter tido influências desse estilo de música, algo o havia tocado de uma forma sincera, que de alguma maneira fazia sentido. Àquelas alturas o mundo do showbizz já estava conhecendo o som de Shankar e tomando-o como forte inspiração, vide os próprios Byrds no álbum 5th Dimention e o saxofonista John Coltrane, que adotou o estudo da religião hindu na vida, influenciando consequentemente também sua música. Batizou, inclusive, um de seus filhos de Ravi (o hoje famoso músico Ravi Coltrane).
O tão aguardado encontro entre Shankar e Harrison ocorreu apenas um ano depois, em Londres. Rapidamente se tornaram bastante próximos. No auge do sucesso dos Beatles, era fácil uma pessoa se aproximar de um dos “Fab Four” com algum tipo de interesse. Nesse caso foi o contrário. o guitarrista dizia que a única pessoa que o impressionou de fato na vida foi justamente o único que nunca quis lhe impressionar: Ravi Shankar. Meses depois era o beatle que partia para a Índia à fim de estudar sitar com o indiano. Por lá ficou seis semanas e sua obsessão pela filosofia oriental, mesclado com o gosto pela música da região só cresceram. A cumplicidade entre os dois, que nunca mais se afastaram, também.
Após alguns anos naquela febre, Harrison se tocou de que nunca seria um exímio tocador de sitar, mas que poderia usar e abusar (e o fez) do uso do instrumento como influência em suas canções de rock.
Juntos participaram ainda do Concert For Bangladesh, em 1971 (com uma série de outros músicos indianos), de um EP de Shankar que continha as músicas “Oh Bhaugowan” e “Raga Mishiri Jhinjhoti” produzido pelo britânico, assim como o Ravi Shankar & Ali Akbar Khan – In Concert 1972, da trilha sonora do documentário Raga (que conta a história da música do norte da Índia) e do LP Shankar Family & Friends, lançado pelo então recém-criado selo de Harrison Dark Horse e que contém a provavel música mais pop de sua carreira, “I Am Missing You”, que na bolacha aparecia em duas versões, uma mais ocidental (à pedido de G.H.) e uma mais oriental (à pedido de R.S.). Além da turnê Dark Horse pela América e do projeto Ravi Shankar’s Music Festival From India. Tudo nos anos 70.
Após produzirem juntos algumas faixas do disco Tana Mana, na década de 80, Harrison lançou em 1996 um box com quatro CDs em comemoração aos 75 anos de Ravi Shankar, Ravi – In Celebration. No embalo lançaram também um projeto sobre cânticos em sânscrito das escrituras Hindus, Chants Of India, o último trabalho dos dois em vida. Após a morte do inglês, Shankar ainda teve tempo de preparar a orquestra de músicos indianos do Concert For George, de 2002, com a inédita canção “Arpan”, em consideração a seu antigo pupilo e amigo.
Homenagem mais nobre que essa, somente a que Ravi fez para George justamente na tarde de sua morte, em 29 de novembro de 2001. Com a presença de Olivia e Dhani Harrison, além de duas imagens de Krishna e Rama posicionadas na cômoda ao lado da cama, Ravi tocou sitar para George até seu último minuto de vida, mais precisamente às 13:20. Ato sublime dessa personalidade que partiu aos 92 anos pra deixar eterna saudade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário