
BLIND FAITH - BLIND FAITH - 1969 - Blind Faith é o álbum de estreia – e único – da banda britânica de mesmo nome, o Blind Faith. Seu lançamento oficial aconteceu em agosto de 1969, pelo selo Polydor Records. As gravações ocorreram entre 20 de fevereiro e 24 de junho de 1969, nos estúdios Olympic Studios e Morgan Studios, em Londres, na Inglaterra. A produção ficou por conta de Jimmy Miller.
O Blind Faith foi uma banda de curta duração, mas que deixou um álbum impressionante na história do Rock. E, também, não é qualquer grupo que pôde contar com talentos como Steve Winwood, Ginger Baker e Eric Clapton.
Os primórdios da formação do Blind Faith surgem a partir de meados de 1968, com a dissolução do fantástico Cream.
Em retrospecto, com o grupo sendo considerado como o primeiro “super-grupo”, o Cream havia se tornado uma potência financeira, vendendo milhões de discos em poucos anos e elevou o repertório do conjunto (e de cada um de seus membros) à popularidade internacional.
Apesar desse sucesso, a banda estava se desmoronando internamente, especialmente por causa da animosidade recorrente entre Jack Bruce e Ginger Baker, com Eric Clapton atuando como mediador para manter o Cream unido.
Entretanto, Clapton havia se cansando de ficar estagnado no Blues Rock comercial e almejava uma nova abordagem musical, experimental, sem uma “camisa de força”, para o gênero.
Simultaneamente, Steve Winwood estava enfrentando problemas semelhantes no The Spencer Davis Group, onde ele havia sido o vocalista por três anos. Winwood queria experimentar com o som da banda, através da infusão de elementos do jazz, mas acabou deixando o grupo devido a suas diferenças musicais, optando por criar uma nova banda – o Traffic.
Essa banda se separou temporariamente em 1969 e Winwood começou a tocar com seu bom amigo Clapton, no porão deste último, em Surrey, Inglaterra. Winwood e Clapton já haviam colaborado no projeto "Powerhouse".
Clapton ficou satisfeito com as jam sessions, mas estava hesitante em iniciar um novo grupo. Então, Ginger Baker apareceu um dia para sentar-se com eles em 1969, e a banda tomou forma quase final.
Clapton ficou reticente em colocar Baker na banda, porque ele tinha prometido a Jack Bruce que, se eles fossem trabalhar um com o outro novamente, todos os três ficariam juntos outra vez.
Além disso, Clapton não queria se reunir com o Cream apenas nove semanas após a sua dissolução e também não gostaria de lidar com outra situação de estrelato, bastante semelhante com a do Cream.
Mas Winwood, em última análise, acabou convencendo Clapton a aceitar a presença de Baker no line-up, argumentando que o baterista reforçou a musicalidade da banda e que seria difícil encontrar um músico igualmente talentoso. Em maio de 1969, Ric Grech, baixista da banda Family, foi convidado a se juntar a eles.
Notícias da formação do grupo criou um burburinho de emoção entre o público e imprensa, a qual chegou a anunciar a banda como um "Super Cream". O grupo estreou em um show gratuito no Hyde Park, em Londres, em 7 de junho de 1969.
O desempenho foi bem recebido pelos fãs lá, mas incomodou Clapton, o qual pensou que a adulação era imerecida, lembrando de seus dias de Cream quando as multidões aplaudiam quase tudo.
Clapton, sabendo que a banda não havia ensaiado o suficiente e não estava preparada, estava relutante em sair em turnê e temia que o grupo se transformaria em uma repetição do Cream.
Steve Winwood estava sob contrato com a Island Records, tendo que ser "alugado" a Polydor Records (gravadora a qual Clapton e Baker estavam no Reino Unido). Possivelmente, como parte deste negócio, um single promocional foi lançado pela Island, embora a promoção fosse somente para a própria gravadora.
O single apenas anunciava o fato de que a Island Records estava mudando seus escritórios. Intitulado "Change Of Address From 23 June 1969", a promo unilateral contou com uma jam instrumental do grupo que não foi sequer mencionado na capa (cuja única outra informação era coisas como os novos endereço e telefone da Island Records).
O single foi gravado no Olimpic Studios, provavelmente em algum momento entre março e maio de 1969, estimando-se que cerca de 500 cópias do mesmo foram produzidas, sendo principalmente enviadas para DJs do Reino Unido e outros membros da indústria da música.
A canção foi finalmente lançada quando a mesma apareceu como faixa bônus em um CD duplo, "Deluxe Edition", do álbum Blind Faith, em 2000 (intitulada "Change Of Address Jam").
A gravação do álbum prosseguia, seguida de uma curta turnê na Escandinávia, onde a banda tocou em shows menores e os permitiam ensaiar seu som, preparando-os para públicos maiores nos EUA e Reino Unido.
Após a Escandinávia, a banda fez uma turnê nos Estados Unidos, fazendo sua estreia no Madison Square Garden, em 12 de julho de 1969, diante a mais de 20 mil pessoas. A banda excursionou por mais de sete semanas nos EUA, terminando sua turnê no Havaí, em 24 de agosto de 1969.
Um grande problema com a turnê foi que a banda possuía apenas algumas canções em seu catálogo - o suficiente para encher cerca de uma hora. Então, o grupo foi forçado a tocar músicas de seus antigos conjuntos, como Traffic e Cream, para o deleite de uma multidão que geralmente preferia seus materiais mais velhos e populares às novas composições do Blind Faith.
Assim, Clapton agora se encontrava exatamente onde ele não queria estar - preso em um "Super Cream" – o que estava causando tumultos durante seus shows ao vivo. Mais que isso, estava tocando o mesmo material de seus dias de Cream, para apaziguar o público e para preencher o vazio deixado pela falta de material do próprio Blind Faith.
Assim, a gravação do álbum foi interrompida pelas supracitadas turnês na Escandinávia e, em seguida, aquela pelos Estados Unidos entre 11 de Julho (Newport) e 24 de agosto (Hawaii), apoiada por bandas como Free, Taste e Delaney & Bonnie and Friends.
O LP foi gravado às pressas e o lado dois consistiu em apenas duas músicas, uma delas uma Jam Session de 15 minutos intitulada "Do What You Like".
O lançamento do álbum provocou controvérsia porque sua capa contou com o topless de uma menina púbere, segurando em suas mãos um objeto de prata alado, que alguns o percebiam como fálico.
A gravadora nos EUA remitiu-o com uma capa alternativa (que mostrava uma fotografia da banda na parte da frente), bem como a original.
A arte da capa foi criada pelo fotógrafo Bob Seidemann, amigo pessoal e ex-colega de apartamento de Clapton, e que é conhecido principalmente por suas fotos de Janis Joplin e Grateful Dead.
Seidemann escreveu que ele se aproximou de uma menina que possivelmente teria 14 anos, no metrô de Londres, e a questionou sobre a modelagem para a capa.
Eventualmente, o fotógrafo se reuniu com os pais dela, mas a garota se revelou demasiadamente velha para o efeito que ele queria. Em vez disso, a modelo usada foi sua irmã mais nova, Mariora Goschen, que se dizia ter 11 anos. Mariora inicialmente solicitou um cavalo como pagamento, mas em vez disso recebeu cerca de 40 libras.
Rumores bizarros vieram à tona com o lançamento do disco e foram alimentados pela controvérsia, incluindo que a menina era filha de Baker ou mesmo que seria uma groupie mantida como escrava pela banda, entre outras insanidades.
A imagem, intitulada "Blind Faith" por Seidemann, tornou-se a inspiração para o nome da própria banda, a qual estava sem nome quando a obra foi encomendada.
Opinião do Blog:
A reunião de talentos extraordinários como Eric Clapton, Steve Winwood e Ginger Baker, além de Ric Grech, não poderia ter um resultado ruim. Mas a qualidade do material produzido é tão fantástico que marcou a história do Rock de maneira poucas vezes igualada.
Clapton ficou empolgado com o surgimento do Blind Faith, mas a presença de seu ex-colega de banda, Ginger Baker, um baterista de qualidade incrível, mas altamente problemático, decretou o grupo como um natimorto. A presença de Baker fez Eric Clapton reviver todos os problemas que levaram ao fim do Cream.
Mas é interessante notar que a estrela mais brilhante do Blind Faith é Steve Winwood, com sua voz belíssima e atuação impecável, tanto nos vocais quanto como instrumentista, além de assinar metade das composições presentes no trabalho. Sem Winwood, dificilmente o álbum Blind Faith seria marcante como o é.
Claro que Eric Clapton brilha com sua guitarra, com solos e riffs que marcam um dos melhores guitarristas que o mundo já viu. Ginger Baker também está incrível - seu solo em "Do What You Like" é fantástico. O mesmo pode ser dito quanto à qualidade do trabalho de Ric Grech.
As letras são boas e enriquecem a obra.
Com apenas 6 faixas e todas não menos que brilhantes fica até difícil apontar destaques. Claro que há sempre menção ao sucesso de "Can't Find My Way Home", música de um bom gosto raríssimo e sutileza tocante. Assim como todo o talento virtuoso de "Do What You Like", um presente para todos os ouvidos.
Também não há como não destacar a beleza deslumbrante e comovente de "Presence Of The Lord", uma das mais belas composições de todos os tempos.
Enfim, com gênios como Steve Winwood e Eric Clapton envolvidos, dificilmente um álbum não seria incrível como Blind Faith o é. Mais que obrigatório e clássico, o disco único do grupo é peça essencial para admiradores do Rock, uma obra-prima de primeira grandeza. Apenas fica o lamento da duração efêmera da banda e o sonho de quantas outras peças de artes ela poderia ter construído.
Rockalbunsclassicos.com.br
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