quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Airto Moreira: o mundo venera e o Brasil despreza


         
Airto Moreira está apenas começando. Aos 76 anos, pouco deveria ser novidade para um músico que fez parte do Quarteto Novo ao lado de Hermeto Pascoal, gravou Bitches Brew com Miles Davis e integrou o Return to Forever de Chick Corea. Mas o lendário percussionista realizou no ano passado algo inédito em sua carreira: gravou um disco seu no Brasil.
Aluê (FOTO) começa e é batizado com o baião que abre o primeiro disco solo de Airto (Natural Feelings, lançado em 1970). “Para mim ‘aluê’ quer dizer bom dia, quer dizer o começo”, diz o percussionista. “Um galo cantando de manhã”, como aquele que estampa a campa, “é ‘aluê’”. Gravado em apenas um take, a gravação bem poderia ter o nome de outra faixa. A inédita “Não Sei pra Onde, Mas Vai” parece definir a disposição de um músico que não faz planos e prefere encontrar a energia adequada para tocar.

Sobre ela, Airto não faz mistério. Basta estar ao lado de bons músicos e, de preferência, diante de um público. O primeiro problema foi resolvido pelo baterista e produtor Carlos Ezequiel, que arregimentou o baixista Sizão Machado, o pianista Fabio Leandro, o saxofonista Vítor Alcântara e o guitarrista José Neto. Ao sexteto de base somam-se os vocais de Diana Purim, filha de Airto, cujo timbre não disfarça a semelhança com o de Flora, sua mãe.
Airto conta que seu nome é sempre lembrado para projetos de revivals. “Por esses dias mesmo virá aqui em casa uma equipe de TV que está fazendo um especial sobre Miles Davis, eles querem que eu conte minhas experiências nos dois anos em que toquei com ele”. Sua lista é das mais impressionantes. Além de Miles, inclui Herbie Hancock, Wayne Shorter, Jaco Pastorius, Dizzy Gillespie, Cannonball Adderley, Paul Simon, Quincy Jones e outros.
“Muitos me convidam para fazer projetos musicais com a obra de Miles, mas como eu vou aceitar tocar com alguém que não fará aquela música tão bem quanto Miles?”
Ao contrário de conversas de bastidores que sopravam uma provável mudança de Airto Moreira para o Brasil, ele descarta. “Meu plano para o Brasil são esses shows. Já tive um sonho de voltar, queria comprar uma casa na Serra do Mar, perto de Curitiba.” Um amigo que acompanhava sua movimentação, no entanto, implodiu seu projeto com três perguntas. 1.) “Você acha que vai ser bem recebido aqui no Brasil, como é aí nos Estados Unidos”. Sua resposta: “Isso não é o mais importante.” 2.) Você acha que vai ter lugares no Brasil para tocar sua música como tem aí nos Estados Unidos? Resposta: “Ah, isso a gente dá um jeito.” E a terceira, e indefensável: “Quantos amigos de verdade você tem aqui?” Resposta: “Nenhum.” Airto Moreira decidiu não voltar mais para morar no Brasil.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.



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