sábado, 19 de fevereiro de 2022

CLUBE DA ESQUINA: CLÁSSICO MEMORÁVEL FAZ 50 ANOS

Em 1972, Milton Nascimento era considerado um dos principais nomes da música popular brasileira. Apenas 5 anos depois do seu álbum de estreia, “Travessia” (1967), o cantor e compositor carioca conseguiu fazer com que os grandes jornais do eixo Rio-São Paulo dessem alguma atenção para o que acontecia fora do próprio umbigo. Não só isso: com base nos acervos digitalizados dos principais veículos brasileiros, é possível dizer que os próximos passos de Bituca era um dos assuntos que mais interessavam aos jornalistas que cobriam a MPB....

A expectativa pelo 5º álbum de estúdio do cantor era grande. Sabia-se que Nascimento dava uma pausa na criação para dedicar seu tempo ao projeto: um LP com canções compostas ao longo dos 2 anos em que estava morando em Minas Gerais, em parceria com artistas locais. E um show, que serviria para apresentar as músicas ao público antes do lançamento do disco. Na contramão de tudo que era feito no setor fonográfico brasileiro, as capitais paulista e fluminense foram colocadas em 2º lugar. Em entrevista publicada pelo O Globo em 14 de janeiro de 1972, Milton contou porque preteriu os grandes centros . “Esta turma daqui de Minas é boa mesmo. Estão aí o Márcio Borges, o Toninho Horta, o Fernando Brant e o Lô [Borges] para provar o que digo. Mas em termos de mercado só existe mesmo Rio e São Paulo. Principalmente o Rio. Vamos lançar o long play aqui [em Minas Gerais] porque a turma é quase toda de Belo Horizonte. A gente já fez muita coisa juntos e agora resolvemos lançar o ‘Clube da Esquina’ no lugar de origem”, diz o cantor....
Quando chegou às lojas, uma informação até então ignorada pela imprensa ganhou destaque. “Clube da Esquina” era um LP de Milton Nascimento “com Lô Borges”. O cantor e compositor mineiro, pouco conhecido a nível nacional, assinava 8 das 21 faixas do álbum duplo. São elas: “Tudo que você podia ser”, “Um girassol da cor do seu cabelo”, “Estrelas” e “Trem de doido” (com Márcio Borges); “O trem azul” e “Nuvem cigana” (com Ronaldo Bastos); “Paisagem da janela” (com Fernando Brant) e “Clube da Esquina nº2” (com Milton e Márcio Borges). Ainda em 1972, Borges lançaria pela Odeon o seu primeiro álbum solo, “Lô Borges”. A divisão do protagonismo foi questionada. “Muita gente, mesmo entendendo das coisas, acha que eu dei tremenda colher de chá ao Lô, ao destacá-lo em meu disco. Nada disso. Primeiro, o disco não é meu só, mas de todo mundo que aparece na capa, gente em que acredito. A ideia foi juntar essa gente num trabalho. Foi um negócio criado por Lô e por mim”, disse Milton ao O Globo de 23 de março de 1972. Essa questão, porém, nem de longe ameaçou a discussão sobre a qualidade do trabalho....
Com direção de produção de Milton Miranda, direção musical do Maestro Gaya e orquestração de Eumir Deodato e Wagner Tiso, “Clube da Esquina” foi bem-recebido pela crítica. “Dois discos compõem este excepcional lançamento da Odeon, que representa sem nenhum favor o que de melhor está sendo feito em matéria de Música Popular Brasileira no momento”, diz nota no O Globo de 26 de abril....
O jornalista Emerson Gasperin, que foi editor-chefe da extinta revista Bizz, comentou o seguinte: “O ‘Clube da Esquina’ é um disco muito importante para o contexto brasileiro porque ‘resgata’ essa alma caipira do país. É um disco rural, folk, moda de viola… E é tão brasileiro quanto um disco de samba ou de outro ritmo que tenha matriz negra”. ...
Kamille Viola, que além de repórter é pesquisadora e autora do livro “África Brasil: Um dia Jorge Ben voou para toda a gente ver”, disse: “‘Clube da Esquina’ é um disco clássico da MPB. Atemporal, soa bem até hoje. Reflete a época: vai dos temas mais hippies até à questão política. Todos os artistas do Clube da Esquina fizeram carreira. É um disco do meu coração, mas é um disco do coração da música brasileira“....

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