segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

O DISCO DA GERAÇÃO DO DESBUNDE FAZ 50 ANOS

                          

- O grito de resistência de Gal Costa. Dirigido pelo poeta baiano Waly Salomão, o espetáculo "Fa-Tal: Gal a Todo Vapor" tornou-se um símbolo dos dias amargos da Ditadura e da era Médici, além de ter motivado o lançamento do histórico álbum duplo -
Esbanjando sensualidade, gostosura e atitude, a Gal Costa que subiu no palco carioca do Teatro Tereza Raquel em 1971 não estava para brincadeiras. Musa entre as musas do tropicalismo, a baiana abria a boca carnuda de lábio vermelhos todas as noites para desfilar um repertório furioso de rocks, blues, sambas, bossas e frevos. Tudo cabia naquele palco meio hippie, meio clássico, meio tudo. Muitas metades juntas, como 2 e 2 são cinco. A conta não fechava, assim como aquele evento musical não se encerrou até hoje.
Mais livre do que nunca, na primeira metade da noite, aquela jovem cantora de 26 anos empunhava seu violão para desfiar sozinha um rosário de maravilhas atemporais. Tocando com as pernas provocativamente abertas, ela deixava a plateia babando, desejosa de ver o que mais havia por baixo da saia colorida que cobria suas belas pernas. Quando chegava a segunda parte, a musa de todas as estações chamava seus escudeiros para eletrificar a casa. O gênio louco Lanny Gordin soltava fogo de sua guitarra mágica em solos incendiários, enquanto Novelli e Jorginho marcavam o compasso no baixo e na bateria.
Tudo era improvisado. Tudo era rock. Tudo era novo. Tudo era Gal Costa. Ponto alto daquele verão divino maravilhoso, o show Gal A Todo Vapor era o contraponto de Brasil careta e cheio de regras ditadas por um governo militar quadrado. Registrado num disco duplo, a ópera da baiana tinha tempero apimentado e doce, como sua voz. Dirigida pelo conterrâneo Wally Salomão, ela construiu ali seu Hotel das Estrelas e levou seu público para o espaço, sempre contando com o reforço de substâncias pouco recomendadas.
Com Gal Costa vivendo o auge da voz, do corpos e do seu momento criativo, tudo que está registrado ali é perfeito. Até os erros parecem perfeitos. Como um microfone que escorrega e cai, provocando um barulho surdo. O que pode soar mais melancólico do que Sua estupidez? O que é mais agressivo que Mal secreto? O que mais festivo do que Bota a mão nas cadeiras? Retrato de um tempo onde transgredir era proibido, embora necessário, Gal Costa desafiava o ilógico e se transmutava em Janis Joplin, em João Gilberto, em Jorge Ben. Eram as forças da natureza agindo harmonicamente para criar um momento único, que não deve voltar nunca mais. Do Blog. Opovo.com.br.... 

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