domingo, 20 de setembro de 2020

O MUNDO DAS CAPAS DE DISCOS CRIADAS POR ROGÉRIO DUARTE

Houve arte nas capas de discos tropicalistas e houve arte no tropicalismo em todo. É claro, pode parecer bobagem, mas se não fosse algumas inovações em artes de capas de discos, poderiam haver até outras formas de colocarem artes nos discos e toda essa criatividade que se pode notar nas capas de discos de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Jorge Mautner e até dos Titãs é obra do baiano Rogério Duarte, baiano de Ubaíra, nascido em 10 de abril de 1939. 

 Um dos mais conhecidos intelectuais multimídias da Bahia, ele é artista gráfico, pintor, tradutor, compositor, músico, poeta e professor que fez parte do movimento tropicalista no final da década de 1960 e que, ao lado de seu irmão Ronaldo Duarte, foi preso e torturado (ele e Ronaldo foram os primeiros do movimento tropicalista a terem sido presos, antes de Gil e Caetano Veloso no final de 1968) e o ato mobilizou artistas, com direito a carta no Jornal da Manhã pedindo a libertação dos "Irmãos Duarte", originando a sua reclusão da mídia, porém sem deixar de trabalhar com a arte. Na década de 1960, mudou-se para o Rio de Janeiro e começou a trabalhar como diretor de arte da Editora Vozes e da UNE (União Nacional dos Estudantes), bem antes de se destacar como o gênio da arte tropicalista, além de ter sido o autor do cartaz do filme "Deus e o Diabo na Terra do Sol" (1964) de Glauber Rocha, amigo de longa data e que Rogério seguiria colaborando na arte dos cartazes, do primeiro (já citado) até o último filme "A Idade da Terra" (1981) além dos filmes de Cacá Diegues como "Grande Cidade" e de livros. Com o passar dos anos, Rogério seguiu na clandestinidade e isso acabou levando ele a descobrir outros rumos, como o do hinduísmo e que o levou a traduzir o livro Bhagvad-Gita, apenas lançado mais tarde com acompanhamento de um CD chamado Canção do Divino Mestre, com vários artistas como Arnaldo Antunes, Belchior, Lenine, Gilberto Gil, Cássia Eller, Tom Zé e inclusive Gal Costa e Gilberto Gil.
A sua forma de colocar a psicodelia de um jeito mais brasileiro nas capas de discos define bem o trabalho de Duarte, e prova disso é o 1º LP de Caetano Veloso, que mostra uma mulher seminua segurando uma imagem de Caetano numa moldura oval. Ou até mesmo duas imagem de ondas do mar, como em "Lugar Comum" (1974) do pianista João Donato ou uma colagem de fotos na capa do álbum homônimo de Jorge Mautner, lançado em 1974 e até mesmo uma brincadeira com a capa do álbum "Let it Be" dos Beatles e torná-la bem psicodélica em matéria de cores e efeitos como no disco "Qualquer Coisa" (1975) de Caetano Veloso. Gil teve 3 dos seus tantos discos com artes assinadas por Rogério, o primeiro na qual ele aparece como um membro da Academia Brasileira de Letras em meio a um cavaleiro e a um motorista no álbum de 1968 e um manuscrito cheio de fragmentos em 1969, além de ter originado o símbolo do cantor "GG" na capa do álbum ao vivo de 1974. A união de cores em letreiros também faz parte, é só perceber o verde, o amarelo e o azul no letreiro do disco "Brasil" (1981) do grande João Gilberto no qual participam também Gil, Caetano e Maria Bethânia e também não deixa de ser novo para alguns desconhecidos fãs de discos e de capas, como do disco "Como Estão Vocês?" (2003) da banda de rock Titãs, o primeiro álbum deles desde a morte de Marcelo Fromer e da saída de Nando Reis do conjunto, que também teve o filho de Rogério ajudando na arte do álbum. Atualmente, não trabalha muito mas ainda segue na ativa elaborando artes para certos livros, têm uma exposição fora do país e acabou virando inspiração para outros gênios em colocarem arte nos bolachões ou nas bolachinhas (CDs). Do Blog Discos indispensaveis para ouvir....

Nenhum comentário:

Postar um comentário