
‘Elis, Essa Mulher’ é um disco de retorno da pimentinha para a Música Popular Brasileira. Depois da esplendorosa turnê Transversal do Tempo (que culminou no excelente álbum homônimo, de 1978), Elis assinou com a WEA, e reencontrou-se com o samba que marcou sua carreira no final dos anos 60, com uma empolgante versão para agitada “Cai Dentro” e a irônica e divertida “Eu Hein Rosa!”, responsáveis por abrir ambos os lados do vinil, e o samba-choro “Pé Sem Cabeça”. É um álbum muito maduro e romântico, que marca bem a fase pessoal de Elis em 1979, com um relacionamento estável ao lado do marido Cesar Camargo Mariano e o sucesso dos shows Falso Brilhante e o citado Transversal do Tempo. Elis explora temas bastante voltados para a intimidade feminina, concentrando-se principalmente nas relações amorosas, e assim ouvimos as belas baladas “Altos e Baixos” e “As Aparências Enganam”, essa com uma excepcional performance de Cesar ao piano, os boleros “Beguine Dodói” e “Bolero de Satã”, o último com participação especial de Cauby Peixoto, e a dolorida e fantástica interpretação de Elis para “Essa Mulher”, uma das mais fortes e arrepiantes de sua carreira. Que música! Que letra! Outra interpretação fantástica é de "Basta de Clamares Inocência", um samba tradicional do mestre Cartola que com Elis virou um jazz rasgado, sofrido, com um groove singelo e contagiante de Luizão Maia, e certamente, com lágrimas correndo dos olhos da cantora em estúdio. Mesmo com tanta música boa, o álbum ficou marcado pelo clássico “O Bêbado E A Equilibrista”, de João Bosco e Aldir Blanc, e que é realmente uma senhora canção. Desde o acordeão de Chiquinho, passando pela letra enorme e complicada, com uma melodia encantadora, ela tornou-se o hino da anistia, e colocou Elis como uma das referências artísticas contra a ditadura, algo que ela havia lutado e muito durante os anos 70. Só por ela, Elis, Essa Mulher já entra nos 10 Melhores Lançamentos Mundiais de 1979, e com o conjunto da obra fechado, se torna para mim disparado o Melhor Disco Nacional lançado há 40 anos. Do Baú do Mairon.......
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