terça-feira, 17 de setembro de 2019

“FRUTO PROIBIDO” a obra prima de RITA LEE!


                                   
O ano de 1975 foi especial e muito importante para a carreira de Rita Lee, pois ela já vinha de três álbuns em carreira solo após sua conturbada saída dos Mutantes e tinha uma pressão muito grande para que o próximo álbum desse certo. Ao lado da banda Tutti Frutti, que já havia gravado com ela o disco anterior “Atrás do Porto Tem Uma Cidade” (1974), ela lançaria aquele que seria considerado sua obra prima e um dos álbuns mais importantes da história do rock nacional e por tabela da MPB, o fantástico “Fruto Proibido”, que graças ao grande sucesso do álbum, renderia à Rita o título de “Rainha do Rock Brasileiro” e para sempre ela ficaria marcada como uma das mulheres mais influentes do Brasil, pois em tempos de ditadura e um extremo machismo, ela conseguiu provar que tinha muito talento e influenciou diversas mulheres que vieram depois dela.
Nesse trabalho ela teve a colaboração de um grande nome em matéria de letras e composições, o mago Paulo Coelho, célebre pela parceria com o “Pai do Rock Brasileiro”, Raul Seixas.
São 09 faixas em aproximadamente 37 minutos, cheias de letras marcantes que falam sobre vários temas, que vão desde relacionamentos, amor, feminismo, libertação, Rock N’ Roll e a destacar algumas bem autobiográficas, que marcariam sua carreira. Nesse disco, a formação da banda foi: Rita Lee (Vocais, Violão e Sintetizador), Luis Sérgio Carlini (Guitarra, Violão e Gaita), Lee Marcucci (Baixo), Franklin Paolillo (Bateria) e Guilherme Bueno (Piano), além da colaboração de Manito, músico da banda Os Incríveis, tocando flauta.
Desse álbum saíram alguns dos maiores sucessos da carreira de Rita Lee e vamos enfatizar aqueles mais importantes e conhecidos pelo público. A primeira faixa é a mais dançante do disco, “Dançar Pra Não Dançar”, que conta com uma leveza no começo da canção, mas logo muda para o rock e mostrava que a banda Tutti Frutti não estava pra brincadeira, com Luis Carlini muito bem na guitarra, com belos riffs e a bateria marcada de Franklin Paollilo, dão o tom da canção. Logo após viria um dos maiores clássicos da carreira de Rita Lee, “Agora Só Falta Você”, cuja letra seria sobre o relacionamento de Rita com seu antigo marido, Arnaldo Baptista, que conheceu ainda nos tempos de Mutantes. Essa canção também é considerada um hino feminista, devido à sua letra que fala das mudanças que ela passava naquela época e mostrava que ela poderia sim ter seu espaço e lutar por aquilo que desejava ter. Um verdadeiro clássico e uma canção muito emblemática, uma das várias que Rita Lee teria ao longo da carreira. “Esse Tal de Roque Enrow” é a visão de uma mãe que não sabe o que fazer com a sua filha que conheceu um tal “Roque Enrow” e estava totalmente rebelde depois disso. É a própria Rita Lee nessa canção, uma letra bem autobiográfica que juntada ao excepcional Luis Carlini, com seus solos e riffs de guitarra, fazem dela um clássico atemporal e uma das mais conhecidas da cantora. “Luz Del Fuego” é uma homenagem de Rita à dançarina, naturista, atriz, escritora e feminista brasileira Dora Vivacqua, que adotou o apelido “Luz Del Fuego” e foi um símbolo do feminismo que lutou pela liberdade das mulheres no Brasil dos anos 40 a 50, tendo sido vítima de forte repressão por parte da sociedade em várias cidades e que acabaria assassinada em sua própria casa em 1967, aos 50 anos no Rio de Janeiro. Rita que iniciou a carreira um ano antes da morte de Luz Del Fuego, se identificou muito com a história da artista e as canções sobre o feminismo se tornariam frequentes na carreira de Rita Lee, principalmente entre os anos 70 e 80. A canção que fecha o disco, se tornou a de maior sucesso da carreira de Rita Lee e tem uma história toda particular, “Ovelha Negra”, que talvez seja a mais autobiográfica das canções da Rainha do Rock Brasileiro, foi aquela que projetou definitivamente Rita ao estrelato na carreira solo e mostrava que ela fazia música tão boa quanto os homens, pois o cenário naqueles tempos era extremamente machista e ela sofreu muito com isso, inclusiva na própria banda, já que a guitarrista e amiga de Rita, Lúcia Turnbull, foi excluída da gravação do disco, pois o restante da banda não achava bom que uma mulher tocasse guitarra, mesmo com a coragem de Rita Lee, tinha muito preconceito e machismo. Nessa canção há a mistura da frustração de ter sido expulsa dos Mutantes, que a trataram como uma ovelha negra e alegaram que ela não tinha o talento devido e nem sabia tocar bem instrumentos, com o sentimento de quem teve que se virar sozinha, sem a ajuda da família e que mesmo assim deu a volta por cima e venceu na vida. Outro ponto importante na canção é o célebre solo de guitarra no final feito por Luis Carlini, que se tornaria um dos maiores e mais conhecidos solos de guitarra da história da MPB e que quase ficou de fora da música. Carlini fala que só depois de muita insistência com o produtor Andy Mills, ele conseguiu tocá-lo e a gravação que está na canção é a mesma que foi tocada ao produtor, que por sinal gravou naquele mesmo momento e colocou sem cortes no álbum, Foi de primeira mesmo!. É uma canção forte e das maiores da história do rock nacional e da MPB.
A prova que “Fruto Proibido” é um álbum especial, está quando se vê o legado que ele deixou, foi considerado em 2007 pela revista Rolling Stone Brasil, o 16º melhor disco brasileiro de todos os tempos. A primeira vendagem dele foi de 200 mil cópias, um recorde à época e que ao longo do tempo chegaram-se a quase um milhão de cópias. Foi um marco na luta contra o machismo reinante nos anos 70, Rita Lee mostrava que fazia música de qualidade, com letras inteligentes, diretas e as vezes com uma pitada de ironia em algumas delas, sem perder a categoria que lhe levariam ao status de Rainha do Rock Brasileiro. Apesar de críticas contra o disco, como a famosa do jornalista Maurício Kubrusly, que trabalhava no Jornal da Tarde (SP), onde o mesmo disse que: “Dançar para não Dançar” e “Ovelha Negra” mereciam elogios. Ainda é pouco, seria relaxamento demais se contentar com esta bateria escandalosa, com a desordem ruidosa da maioria dos acompanhamentos, com a falta de expressividade das vocalizações. (…) Uma produção adequada para os fãs do gênero hippie de butique, meio louquinha e acreditando que o rock vai ou pode mudar qualquer coisa”. Não imaginava ele que estaria completamente enganado pouco tempo depois. Ela é até hoje a mulher que mais vendeu discos na história do Brasil, com mais de 55 milhões de álbuns durante sua gloriosa carreira e que se aposentou dos palcos em 2012, mas não da música, como ela mesma disse. Esse trabalho foi feito num tempo onde os artistas tinham qualidade musical, coisa que atualmente está em falta e “Fruto Proibido” deveria servir como uma fonte de inspiração, principalmente para o Rock, que está meio devagar, mas “Esse tal de Roque Enrow” nunca deixará de existir, graças à álbuns como esse, RECOMENDO!.
Alessandro cn do Casa dos Clássicos...........

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