sexta-feira, 26 de abril de 2019
DESAFINANDO O CÔRO DOS CONTENTES NO MS
Numa época marcada pela chatice insuportável do “politicamente correto”, e da falta de ousadia, a nossa música segue capengando sem perspectivas reais que possam transformar esse cenário desanimador. Afinal com a música sertaneja, o funk carioca e outras aberrações dominando e controlando tudo, fica complicado encontrar espaço para o bom gosto. Aqui no MS, esse quadro não é diferente e o universo musical trilha o mesmo caminho. Em meio a tudo isso, um artista tem a coragem de desafinar o “coro dos contentes” e fazer tudo ao contrário. Trata-se de G. Ribeiro (que já foi Geraldo Ribeiro), músico de longa data, violonista e percussionista. Um artista antenado com os saudosos tempos em que os músicos brasileiros ousavam, criavam, iam além das fórmulas estabelecidas e fáceis – arriscavam tudo e não abriam mão da liberdade para se indignar, de se expressar.
Carioca e formado em veterinária, Geraldo está na estrada há muito tempo. Fez carreira em Campo Grande participando de várias bandas nas décadas de 80 e 90. Um dos grupos mais conhecidos foi o Poranguetê, que inclusive chegou a se apresentar no Circo Voador, no Rio de Janeiro", em 1982.
Em 2002, depois de muita batalha e inúmeras adversidades, G. Ribeiro, conseguiu lançar o seu primeiro disco solo sugestivamente chamado de “Mentira e Ficção”, que se não obteve o resultado que fazia por merecer, serviu para mostrar que a música de Mato Grosso do Sul tinha ganhado um tempero bem diferenciado.
No disco, a inebriante “Cotoco de Vela”, "Rabo de Arara", de Lenilde Ramos e Joel Pizzini, “Ervilha”, “De Onde é que é Tu. E.T.”, entre outras pérolas de um artista alucinadamente lúcido que não se contenta com o óbvio e prefere arriscar.
Na música de G. Ribeiro você percebe ecos de um Tom Zé, a fina ironia de Jards Macalé e a pegada universal do rock, tudo temperado com questões e verdades que fazem parte da nossa vida, seja aqui no Mato Grosso do Sul ou em qualquer outro lugar. É tudo brincadeira, ou apenas “um toque”, tanto faz, ou é bem mais do que isso... O resultado e as respostas vão ficar por conta do ouvinte que ao se deparar com tantos achados poéticos e sacadas instigantes, palavrões e temas importantes, certamente estará convicto de que está mantendo contato com a obra de uma cabeça pensante, que diverte, incomoda, esclarece e confunde.
Depois de “Mentira e Ficção” G. Ribeiro, consciente de que quem nasceu para desafinar o coro dos contentes nunca será convidado para participar do banquete dos homens de bem, seguiu em frente driblando a incompreensão e buscando levar a sua arte a quem se dispõe a ouvir boa música....
LUIS CARLOS PAEL.....
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