sábado, 8 de setembro de 2018

Futuro do país passa pela cadeia e pelo hospital




                  
Mais do que em qualquer outra eleição, a campanha de 2018 colocou o Brasil numa encruzilhada. Um pedaço do eleitorado trafega pelo caminho que leva à cadeia. Outro naco de eleitores prefere a trilha que conduz ao hospital. Ao fundo, ouve-se o barulho provocado por meia dúzia de candidatos que se oferecem como alternativas ao poste fabricado atrás das grades e à vítima da facada, recolhida à UTI.
Consolidou-se um deslocamento geográfico da campanha presidencial. Preso, o ficha-suja inelegível transformou sua cela especial num comitê eleitoral de onde articula sua substituição na cabeça da chapa. Esfaqueado, o rival do polo oposto transforma seu drama clínico num grande ato de campanha, postando desde a UTI vídeos, fotos e mensagens nas redes sociais.
A um mês do dia da eleição, os dois protagonistas da disputa, Lula e Bolsonaro, guerreiam em trincheiras extremas: uma cela e uma UTI. As principais armas do combate são o veneno ideológico e a mistificação emocional. Num cenário assim, marcado por posições extremas, o extremismo que mais preocupa é o da agenda extremamente vazia. O maior perigo para o eleitor não é o risco da falta de sabedoria na escolha. O risco mais latente é o da falta de opção.
Que tom adotar?
Em política, como numa partitura musical, muitas vezes o trecho mais relevante do discurso é a pausa. Esfaqueado num ato de campanha, Jair Bolsonaro foi submetido à possibilidade de refletir. Preferiu conservar aberta a trincheira das redes sociais. E delegou a três pessoas a tarefa de manter a campanha acesa fora do ambiente hospilar: o general Hamilton Mourão, candidato a vice; e os filhos Flavio e Eduardo. O desafio da campanha do capitão é calibrar o tom do discurso.
Bolsonaro e seus operadores políticos podem continuar utilizando palavras como armas carregadas. Ou podem começar a medir as palavras. Com a língua em riste, tendem a abreviar a trégua concedida pelos adversários. Moderando o linguajar, potencializariam os efeitos sedativos que a comoção provoca nos nichos do eleitorado que cultivam uma aversão ao extremismo.
Por Josias de Souza.........

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