sexta-feira, 27 de julho de 2018

NEIL YOUNG, O LOBO INDOMÁVEL


                   
Existem artistas que estão acima do bem e do mal. E, sem a mínima dúvida, Neil Young é um deles. Com uma sólida carreira construída desde o seu álbum-solo de estréia ("Neil Young", de 1968), o compositor canadense vem, desde então, gravando discos constantemente. Seja acompanhado pela Crazy Horse, seja sozinho, seja com bandas formadas por velhos amigos, seja com Crosby, Stills & Nash, praticamente todo o ano, Neil Young nos brinda com um novo trabalho de inéditas. E isso sem contar com os seus arquivos que, para alegria dos fãs, ele mesmo despejou todos no mercado. Ele também é considerado um dos artistas mais íntegros do cenário musical e jamais fez concessão alguma, descartando toda e qualquer fórmula, preferindo se arriscar sempre. Um verdadeiro lobo indomável.

No próximo mês de novembro Neil Young vai completar 73 anos de idade. O cantor e compositor canadense pode ser considerado um artista completo na melhor acepção da palavra. Além de tocar violão, guitarra, gaita, piano e ainda cantar, Neil sempre se mostrou preocupado com as questões sociais, econômicas e ecológicas que assolam nosso planeta muito antes disso virar moda.
Embora este trovador seja reconhecido por sua forte ligação com o folk rock, a música de Young é muito maior do que este simples rótulo. O canadense já gravou discos com influência de country americano, jazz , rock, rockabilly e até mesmo música eletrônica, mostrando toda sua versatilidade como prolifico compositor. Young consegue compor da balada mais lírica ao rock mais barulhento sem perder suas características. Ora como solista, ora ao lado de seus amigos do Crosby, stills Nash & Young.
 Com uma discografia pra lá de extensa, fica complicado para o novo ouvinte se posicionar diante da música de Neil Young. Está matéria tem por objetivo indicar os melhores e mais diferentes trabalhos deste artista inigualável. Boa leitura!
Everybody Knows This is Nowhere, 1969 – Após um boa estreia, com um trabalho auto-intitulado, Young conseguiu com este segundo disco ao mesmo tempo alcançar sua identidade musical e lançar um álbum antológico. Aqui começa sua longínqua parceria com o grupo Crazy Horse, na época formado por Danny Whitten (guitarra), Billy Talbot (baixo) e Ralph Molina (bateria). A química foi imediata como se pode notar em clássicos como "Down By The River" e "Cowgirl in the Sand", canções que ainda se tornam obrigatórias nos shows do canadense. Mas o trabalho não se resume somente a essas duas canções, na faixa de abertura "Cinnamon Girl", Young já mostra ao ouvinte a mistura que o deixaria famoso em todo o planeta: a crueza do rock com a sensibilidade da música folk. Letrista consistente e compositor prolifico, Neil se mostrou desde o inicio um músico diferenciado com uma visão musical simples e ao mesmo tempo forte e singela.
Everybody Knows This is Nowhere, é essencial para quem quer conhecer a fundo a trajetória musical de um dos maiores músicos do planeta. 
O Grande Clássico:
Harvest, 1972 – Devido a forte química do cantor com a banda Crazy Horse, ninguém esperava que Young fosse lançar um disco sem seus parceiros. Mas o cantor nunca foi de se acomodar impassível no próprio nome, por isso em 72, Neil coloca seu grupo de apoio na geladeira e segue para a cidade de Nashville a fim de gravar com um grupo local formado por Ben Keith no Pedal Steel, Tim Drummond no baixo, Benny Buttrey na bateria, John Harris e James Macmahon no piano e ainda Teddy Irwin na guitarra. Young batizou seus novos parceiros de The Stray Gators, e juntos eles lançaram o disco que seria o maior sucesso da carreira do canadense.
 Harvest é um trabalho melancólico e eminentemente acústico, ressaltando o lado country do artista. A cereja do bolo é mesmo Bem Keith que dá um tempero especial nos arranjos usando o pedal steel (foto abaixo), uma espécie de guitarra que se mantém deitada sob uma armação de metal. Na faixa-título sua aparição é ao mesmo tempo discreta e essencial. Assim como o piano minimalista no inicio de "A Man Need a Maid". Esta última juntamente com "There´s a World" formam um par de canções onde o músico se faz acompanhar da orquestra sinfônica de Londres, deixando os temas com ares de grandiloquência. A gaita malandra de "Heart of Gold" e seu balanço mostra a personalidade única do artista, sempre compondo temas permeados pela melancolia.
O Fundo Do Poço:
Tonight´s The Night, 1975 – Este é um disco denso, melancólico, e não poderia ser diferente, Young Acabara de perder seu amigo e parceiro Danny Whitten (guitarrista do Crazy Horse) e seu roadie Bruce Berry, ambos por overdose de heroína. A depressão pela perda de dois grandes amigos levou o músico a se afundar cada vez mais no álcool e nas drogas. Mesmo combalido e com a voz cansada o canadense se juntou com alguns bons e velhos amigos como Bem Keith, Ralph Molina e Billy Talbot e lançou "Tonight´s The Night" no ano de 1975. Os problemas vividos pelo cantor se refletem nas composições sempre melancólicas e arrastadas, mas de maneira alguma pode se dizer que é um trabalho ruim, pelo contrário. O disco tem verdadeiros hinos como a faixa-título e a bela balada "Mellow My Mind". Um disco gerado em meio à turbulência, mas com ares de clássico.
Na Cola do Elvis:
Everybody´s Rockin, 1983 - Só Frank Zappa e Neil Young sabem utilizar o sarcasmo de maneira genial. Young havia lançado no mercado o CD "Trans" pela nova gravadora Geffen. Até aí tudo certo se não fosse pelo fato do músico estar empolgado com a nova tecnologia e deixar de lado seu folk rock para lançar esse trabalho fortemente influenciado pela música eletrônica. Os executivos da nova gravadora não gostaram nada desta atitude e repreenderam o músico dizendo que o mesmo havia sido contratado para lançar álbuns de rock. Bem, se era rock que eles queriam, rock eles iriam ter. Mas não do jeito que imaginavam.
Deliberadamente o cantor lançou este disco fortemente influenciado pelo rock dos anos 50, no melhor estilo Elvis Presley e Jerry Lee Lewis. Canções como "Betty Lou's Got a New Pair of Shoes", de autoria de Bobby Freeman,"Rainin' in My Heart", da lavra de Slim Harpo, além de "Payola Blues" de sua autoria são completamente calcadas no estilo rockabilly. Registrado ao lado do grupo The Shocking Pinks, "Everybody Rockin" só vai agradar aos verdadeiros amantes do estilo, não lembrando em nada o velho folk rock celebrado pelo cantor. De todo modo, escolhi incluir este trabalho para alertar os leitores de uma possível surpresa desagradável.
O Melhor Ao Vivo:
Live Rust, 1979 – O primeiro disco ao vivo gravado por Neil Young foi lançado em vinil duplo, contendo no mesmo show duas apresentações distintas: na primeira parte, o cantor se apresenta sozinho empunhando seu violão e gaita e cantando canções como "Sugar Mountain", "Comes a Time" e "I Am a Child". Na segunda parte, o canadense é acompanhado pelos velhos amigos do Crazy Horse em versões elétricas para sucessos como "Cortez The Killer", "Like a Hurricane" e "Tonight´s The Night". O disco é recheado de grandes clássicos, fazendo uma bela retrospectiva da carreira de Young até então. Outra grande sacada do Músico foi adicionar ao trabalho a versão acústica e elétrica de "Hey Hey My My", respectivamente no inicio e no final do Disco, Fazendo de "Live Rust" um dos grandes discos ao vivo de todos os tempos.
 All That Jazz:
This Notes For You, 1988 – No final dos anos 80, com mais de 20 anos de carreira, o mestre Neil já havia flertado com inúmeros estilos, mas acabou surpreendendo a todos lançando este trabalho bastante influenciado pelo jazz. O cantor formou uma nova banda apenas para a gravação deste trabalho chamada de "The Blue Notes", que contava com um competente sexteto de metais além de Frank "Poncho" Sampedro nos teclados, Rick "The Bass Player" Rosas no baixo e Chad Cromwell na bateria.
 Musicalmente é um disco de rock encharcado de jazz, onde até o vocal de Young se mostra mais cool e tranquilo como se fosse um Chet Baker da folk music. As composições variam entre temas mais swingados e outros mais tranquilos e complacentes. Young nunca mais lançaria outro trabalho do gênero, o que é uma pena porque mais uma vez o canadense mostrou que sabe adaptar novos estilos ao seu som.
Volta As Raízes:
Freedom, 1989 – Depois de transitar por vários estilos que vão desde o rockabilly até o country mais caipira possível, Young resolve voltar as raízes do rock e do folk com "Freedom" surpreendendo a todos de maneira agradável. Tal como ocorreu em "Live Rust" o álbum tem uma parte formada por canções acústicas e outras mais elétricas, sendo que abertura e encerramento deste trabalho conta com uma versão acústica e outra elétrica para "Rockin´ in The Free World", que já nasceu clássica, uma daquelas músicas que o público é quase obrigado a cantar o refrão a plenos pulmões e passou a ser obrigatória em todos os shows do canadense. A segunda faixa, "Crime in The City", introspectiva e com seu belo solo de sax, parece uma sobra do já comentado "This Notes For You". "Eldorado" tem um clima meio hispânico, meio rocker e "The Way This Love" é típica balada folk/romântica que o músico adora criar. Em resumo: Freedom é o clássico absoluto dos anos 90! 
 Em Seu Habitat Natural:
Unplugged, 1993 – Nos anos 90 a febre dos acústicos invadiu as rádios e prateleiras das lojas de discos de todo o mundo, com músicos de todos os estilos gravando neste formato, inclusive aqueles que nunca tiveram nada a ver com os violões como é o caso do Kiss e do Alice in Chains apenas para citar dois nomes. Mas no caso de Neil Young a coisa muda radicalmente de figura, uma vez que o cantor sempre privilegiou o som acústico na maioria dos seus discos. Portanto não é de se estranhar que o CD "Unplugged" do velho canadense tenha sido um dos melhores lançamentos do estilo. Acompanhado de Nils Lofgren nos violões, Ben Keith no dobro e lap steel, Spooner Oldham no piano, Tim Drummond no baixo, Oscar Butterworth na bateria, além das backing vocals Astrid Young e Nicolette Larson, Young brilha em um repertório muito bem escolhido, entre seus maiores sucessos e suas grandes canções tendo soar menos óbvio do que a maioria dos artistas que gravaram sob este formato. Mesmo as mais conhecidas ganharam roupagens diferentes como o seu maior hit "Like a Hurricane", apresentada somente com Young nos vocais acompanhando de sua gaita e um maravilhoso órgão de igreja tocado pelo próprio numa versão incrível. "Helpless" é outro destaque com as belas vozes de apoio se sobressaindo no refrão. "Harvest Moon" e "The Needle And Damage Done", outros dois clássicos ficaram ainda mais belos sob o formato. E Young ainda achou espaço para apresentar uma faixa inédita, "Stringman" datado da década de 70. Mais um grande lançamento do velho lobo canadense.
 Um Álbum conceitual:
Greendale, 2003 – Neil entra o novo milênio muito bem, obrigado! Cheio de energia, o cantor lança um trabalho conceitual, que conta histórias pitorescas dos moradores da cidade que dá nome ao disco, principalmente a família "Green", o clã central, por onde gira todas as histórias. Acompanhando por seus amigos do Crazy Horse, além de várias vocalistas de apoio denominadas "The Mountainettes", o canadense fez um disco mais direto, voltado para o rock mais básico sem nada muito rebuscado, como se espera de trabalhos conceituais. As faixas porém estão mais longas, talvez para que as histórias possam ser mais bem desenvolvidas, como é o caso de "Carmichael" e "Be the Rain", ambas com mais de nove minutos de duração.
 Por ser um álbum conceitual, é altamente recomendável que o ouvinte escute todo o trabalho, de preferência com o encarte com as letras na mão. Young consegue mais uma vez soar "classudo" sem perder a simplicidade. O disco ainda vem acompanhado de um DVD contendo um filme produzido pelo cantor e um show com as músicas do disco em formato acústico.

Top 10 de Canções:
Se você não conhece muito da discografia de Neil e quer se aventurar pela bela e lírica obra deste excepcional artista, aqui vai meu top 10 de canções do artista:
1 –Hey Hey, My My – Seja sua versão acústica ou elétrica, essa canção é um hino definitivo do rock n´roll, A letra da canção diz que é melhor queimar do que desaparecer, ponto pra Young. A melhor versão pode ser escutada no duplo ao vivo "Weld".
2 – Southern Man – Um clássico bem conhecido do público através do Crosby, Stills, Nash & Young, mas que possuiu uma bela versão em seu terceiro trabalho "After The Gold Rush".
3 – Inca Queen – Uma das mais belas e sentimentais baladas cantadas pelo canadense. Pode ser encontrada no álbum Llife"
4 – Helpless – Gravado originalmente por Crosby, Stills, Nash & Young no clássico "Deja Vu" essa canção ficou ainda mais bonita no "Unplugged", com o belo coral feminino fazendo contraponto com a voz do velho lobo canadense
5 – Like a Hurricane – Outro clássico de Young com inúmeras versões espalhadas por toda sua discografia, mas foi lançada originalmente em 1977 no "American Stars Bars".
6 – Coupe The Ville – Quase um cool jazz cantado em sussurro por Young, como se fosse um Chet Baker do oeste. A melhor faixa de This Note´s For You.
7 – Albuquerque – Triste, sombria, lírica, depressiva, sentimental. São vários os adjetivos para definir esta faixa de "Tonights The Night", que possuiu um maravilhoso solo Floydiano ponteando toda a canção.
8 – Cortez de Killer – Canção originalmente lançada no disco "Zuma" , conta a história de um serial Killer em forma de uma balada midi tempo. Fantástico!
9 – Lomg May You Run – Faixa que deu nome ao único disco da Stills e Young band, uma canção lírica por excelência.
10 – Double E – Um blues tosco e perturbador contido em Greendale
Autor: Márcio Chagas..................

Nenhum comentário:

Postar um comentário