quinta-feira, 26 de abril de 2018

RARIDADE INCRÍVEL DO ROCK, QUE SÓ AGORA FOI RECONHECIDA


         
Titus Groan - Plus – 1970 – O mundo do rock durante o final dos anos 60 e início da década de 70, é recheado de verdadeiras “pérolas musicais”, a cargo de diversas bandas e cantores que apesar da indiscutível qualidade e de ter lançado discos fantásticos, por um motivo ou outro, não aconteceram, ou seja, não tiveram o reconhecimento que os seus respectivos talentos faziam por merecer. Entre tantos nomes que justificam tudo isso, falo desta feita do grupo Titus Groan, que lançou o ótimo disco chamado “Plus” em 1970 e acabou sendo deixado de lado e hoje graças a internete, acabou sendo um dos álbuns mais cobiçados pelos colecionadores de raridades musicais de todo mundo.
 A capa com ilustração horripilante pode até causar um calafrio dos diabos, mas a música que sai dos sulcos do disco é uma maravilha só. Lançado originalmente em outubro de 1970 pela Dawn Records, o álbum do Titus Groan é dessas obscuridades musicais que fazem com que este bolha sinistro continue vagando pelos sebos em busca de raridades discográficas perdidas no tempo. Ostentando um nome estranho retirado da literatura gótica (é o título do primeiro livro da trilogia de Gormenghast, de Mervyn Peake, publicado em 1946), este misterioso grupo do Reino Unido durou menos de um ano, mas o tempo suficiente para produzir este único e excelente registro.
  Em apenas 5 faixas, o quarteto mostra toda a sua criatividade e ousadia nas instrumentações. Composições alucinantes tocadas de forma magistral pelos músicos Stuart Cowell (guitarra, teclados e vocais), Tony Priestland (sax, flauta, oboé e sopros em geral), John Lee (baixo) e Jim Toomey (bateria e percussão). O som denota certa aura medieval, agregando elementos do folk, rock progressivo, hard rock e jazz-rock. Nada menos que intrincadas maquinações sonoras dissolvidas em arranjos envolventes e melodias apuradas, criando momentos de puro deleite musical.
  Temas como as estilosas “It Wasn’t For You” e “I Can’t Change”, ou ainda a magnífica suíte “Hall Of Bright Carvings” (título do primeiro capítulo do livro que batizou a banda) indicam uma irrefutável afinidade sonora com grupos britânicos de mesma linhagem como Jethro Tull, Caravan, Colosseum, Traffic ou East of Eden. O entrosamento e a inventividade dos músicos envolvidos impressionam. É notável a interação entre os fraseados de guitarra e os instrumentos de sopro, sem falar no audacioso trabalho percussivo e nas sutis passagens de órgão com texturas medievais.
  Outra faixa indispensável é a agradável “Its All Up With Us”, com linha melódica e sonoridade mais acessíveis do que nas outras composições, muito por conta da levada mais pop e da bela harmonização vocal da trupe. No contexto geral, uma sonzeira esquecida no tempo e entregue aos garimpeiros do universo bolha, colecionadores de raridades vinílicas e alienígenas de Internet atentos a downloads empoeirados.
  Logo após o lançamento do disco – e em meio a críticas elogiosas da imprensa britânica – a gravadora Dawn promoveu um giro do Titus Groan pela Inglaterra com a participação de outros grupos do seu cast: os não menos obscuros Demon Fuzz, Comus e Heron. Tenebrosamente, a tour foi um fracasso colossal e menos de um ano após a sua fundação, a banda encerrou as atividades. Seus integrantes simplesmente desapareceram do mapa musical, mas ao menos deixaram esta raridade pelo caminho.

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