quinta-feira, 9 de abril de 2020

OS 50 ANOS DE UM DISCO MÁGICO


                                
Não são poucos os fãs que consideram esse disco como o melhor trabalho solo de um Beatle. O grupo havia acabado de terminar e George Harrison achou que era hora de colocar todo seu talento de compositor para fora, frustrado por ter poucas composições próprias nos Beatles.
Assim, lança em 1970 o LP triplo All Things Must Pass, com produção de Phil Spector e uma penca de convidados. Sim, você conhece esse disco, especialmente a clássica canção "My Sweet Lord", um dos maiores hits da história. Um trabalho obrigatório, que teve uma reedição em 2001 e lançamento por aqui. Por isso, corra atrás! Mas, antes leia a história.Imagine como era a vida de um Beatle após o fim do grupo. Agora tente imaginar como devia estar se sentindo o tímido e talentoso George Harrison, que foi eclipsado por John Lennon e, principalmente, Paul McCartney. George vinha acumulando canções desde 1966, sendo "The Art of Dying" e "Isn't It a Pity" dessa época. O guitarrista já havia lançado dois discos solos antes de All Things Must Pass: Wonderwall Music em 1968 e Electronic Sound em 1969, mas que eram basicamente instrumentais. George havia oferecido algumas dessas canções aos Beatles para o LP Get Back, sem sucesso.
 Com o final do grupo mais importante da história, Harrison resolveu entrar nos estúdio Abbey Road com o produtor Phil Spector para trabalhar seu terceiro LP solo no dia 26 de maio de 1970, seis dias depois da estréia do filme Get Back.
As gravações durariam mais de três meses e George teria a colaboração de dezenas de amigos. Spector foi chamado pelo seu famoso wall-of-sound, um som com muita reverberação e que George queria no disco. Essa técnica seria criticada pelo próprio George quando o álbum teve uma reedição especial em CD em 2001, no texto introdutório.
George passou os primeiros dias apresentando as músicas para Spector, apenas com um violão e acompanhado de um baixista desconhecido. Foram quinze canções, das quais oito seriam retrabalhadas, sendo que algumas delas acabariam não sendo aproveitadas. Uma delas era "Everybody, Nobody", que depois seria rebatizada como "The Ballad of Sir Frankie Crisp".
Para a gravação George contou com uma legião de amigos: Ringo Starr; todo o grupo Badfinger; Eric Clapton, que por razões contratuais não foi creditado no disco; o pessoal do Derek and the Dominos; o baterista Alan White, que tocava na época com John Lennon, antes de entrar no Yes; e o pianista Billy Preston. Também estava presente o amigo de longa data, o baixista e artista Klaus Voorman, que ilustrou a capa de Revolver.
 Um adendo: George e Eric haviam excursionando nos últimos meses de 1969 com o combo Delaney and Bonnie e retomado a antiga amizade, abalada quando Clapton "roubou" Patty Boyd, então esposa de George.
Harrison resolveu abrir o disco com uma canção escrita com Bob Dylan em Woodstock em 1968, quando passou uns dias com ele e com o The Band, chamada "I'd Have You Anytime." Segundo George, "fui visitar Bob após aquele acidente em que ele quebrou o pescoço e ele estava muito quieto, parecia sem confiança. Foi isso que senti quando o visitei em Woodstock. Ele mal disse algumas palavras em dois dias. Bem, finalmente começamos a tocar um pouco e foi muito gostoso, com todas as crianças correndo e nós, ali, compondo. Acho que estávamos perto do feriado de Ação de Graças. Ele cantou uma canção, estava muito nervoso e tímido e perguntou o que eu tinha achado. Fiquei surpreso, porque eu adorava as coisas dele. Quando fui para a Índia, alguns anos antes, levei apenas um disco, que era o Blonde on Blonde. Acabei me sentindo mais próximo a ele, porque era alguém tão genial, tão importante e, ainda assim, estava totalmente nervoso e com baixa auto-estima. Aí eu me virei para el e disse 'você escreveu canções brilhantes e ainda me pergunta o que achei?'. Então comecei a mostrar alguns acordes, porque Bob tem uma tendência a tocar acordes bem simples, básicos, enquanto eu pedia que escrevesse uma letra para mim. E assim surgiram rapidamente os primeiros versos."
A canção acabaria sendo terminada por Dylan enquanto ele participava do Festival da Ilha de Wight. George e Bob se encontrariam também em 1969 enquanto Dylan gravava o LP New Morning. George acabaria usando a canção "If Not For You" em All Things Must Pass.
  Outra faixa curiosa é "Apple Scruffs". Esse era o nome que os Beatles davam aos fãs mais xiitas da banda, que praticamente moravam nos degraus do prédio da Apple, em Saville Row. George conta que a dedicação deles era tão grande que dois acabaram como empregados da Apple ou dos estúdios Abbey Road. Quando George escreveu a canção os convidou para ouvirem, levando os fãs ao delírio e às lágrimas.
O disco teve uma grande influência: Deus. George estava muito influenciado pelo Hare Krishna. Para demonstrar seu amor, compôs o maior sucesso de sua longa carreira, "My Sweet Lord". Talvez apenas "Imagine" possa rivalizar com essa faixa em todo o catálogo solo dos ex-integrantes dos Beatles. Segundo George, cantar "Hare Krishna" como se fosse um mantra foi fundamental para ajudá-lo a se livrar do vício em heroína. Segundo ele, "Hare Krishna" é mais poderoso do que "Aleluia". "É mais do que glorificar Deus, é pedir para ser o servo dele", dizia o guitarrista.
O curioso é que, enquanto gravava a canção, John Lennon estava no estúdio ao lado, em Abbey Road, gravando seu primeiro disco solo, Plastic Ono Band, cantando frases como "Deus é um conceito no qual medimos nossa dor." E o mais irônico é que nos dois discos participavam Klaus Voorman e Ringo, e ambos foram produzidos por Phil Spector!
George tinha tanto respeito pelos fãs que não deixou a EMI lançá-la como single para não afetar a vendagem do álbum e para não dar gastos extras aos compradores. All Things Must Pass era, até aquela data, o mais caro LP já feito pela gravadora. A música só seria lançada em compacto algum tempo depois. Na América saiu em 23 de novembro de 1970, e no Reino Unido em 15 de janeiro de 1971, chegando ao primeiro lugar nos dois lados do Atlântico.
 Lançado em 27 de novembro de 1970, All Things Must Pass foi ao topo na parada de todo o planeta e surpreendeu a todos ao sair em três LPs, com dezoito músicas próprias.
Com All Things Must Pass George Harrison mostrou seu arsenal de composições guardadas ao longo dos anos e seu enorme talento. Apesar de ser longo, o disco é forte candidato a melhor trabalho solo de um ex-Beatle, isso se não for mesmo o melhor. O LP foi aclamado de forma unânime e alcançou vendas excelentes, consolidando Harrison como um artista singular.
Seu prestígio era tão grande que em 1971 fez um dos primeiros concertos destinados a uma causa social, The Concert for Bangla Desh, outro disco triplo, gravado ao vivo no Madison Square Garden em Nova York e com as presenças de Bob Dylan, Ravi Shankar, Eric Clapton, Ringo Starr, Billy Preston, Badfinger, Leon Russell, entre outros.
All Things Must Pass virou um clássico absoluto e, trinta anos depois, George resolveu lançar uma edição comemorativa com músicas extras, além de soltar faixas conhecidas apenas em discos piratas. Além disso, pela primeira vez deu a lista de todos os músicos que participaram das gravações originais, além de escrever um texto belíssimo sobre todo o processo de gestação do álbum. Como curiosidade, ficamos sabendo que em "Art of Dying" a percussão foi feita por um jovem desconhecido de apenas dezenove anos à época. Seu nome? Phil Collins.
Por Por Rubens Leme da Costa - Colecionador....

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